I
Guerra,
A separação erguida
Como uma fenda
Nos olhos !
Curral de gentes
De ambos os lados mansos-ferozes !
A síntese de várias vergonhas !
Tamanha ousadia humana !
Prisão perpetuada por nós ignóbeis
Transformados em deuses parasitas !
Paz,
Ferida menina operada
Rasgada ao meio !…
No centro do peito
Coração destroçado!
Mãe dividida!
Nos olhos os cortes das baionetas !
-Silêncio asmático !…
Paz…
Violada taradamente
Condenada – atormentada !…
Guerra…
Teu muro o nosso muro,
Teus arames assassinos
Nossos absurdos,
Teus rios e lagos
Nossas lágrimas jogadas,
Teus pés minados
Nossos calos feridos !
II
Paz…
Menina golpeada,
Tua dor permanece
Entravada nas veias e nervos
Das recordações
Do dia em que fostes
Traída !!!
As cabeças
Que violaram teus direitos
Que abortaram teu mêdo
Que trucidaram tua dignidade
Que infincaram baionetas no teu colo
Que permitiram teu retalho
E que venderam-te aos teus carniceiros
Teu corpo esquartejado…
São cabeças
Que servem somente
Para os pensamentos cancerosos
Como caras de verdugos…
Paz…
Grite, grite seu grito
Até que expulces do teu ventre
Estes parasitas-zumbis!…
III
Um corre pro seu lado
Corpo se espatifa no chão
Boca se enche de ar
Desgraçado se vê no espelho
Pátria uma religião
Cidadão uma mentira
General perdição
Partido a corda do enforcador
Estado um ser esfaqueador!
Coração dolorido
Paz em feridas
Suspiro!…
Suspiro no leito
Teu corpo silêncioso…
Como te amo!
Corpos
Bocas
Desgraçados
Pátrias
Cidadões
Partidos
Corações
Paz!
Como tu és quente e explosiva…
Mata-me entre tuas coxas
E afoga-me
Na unidade do teu gozo
De Mulher…
IV
O povo admite
A análise das armas
Entre a ânsia dos amores
Correspondentes aos dentes
Da poesia ou ficção escritas…
Imaginem imagens outrora
No patamar do poder
O presidente presidenciando
O coito da pátria
Com o poder desvairado…
O povo admite
O aprendizado
Eivado de defeitos
No bico das armas
Viradas pro próprio peito!…
O povo admite
Revolução da victória ?
-Sim!
Victória da revolução ?
-Não!
Apelo do povo…
Panfleto de soldados!
-Sublevar!!!
Provocar o desmoronamento
Das chamas massacrantes!
Reino do poder!
Eliminação física
Da repressão!
Exterminados
As doutrinas e rótulos
Ressureição do povo!!!
-Hi, hi, hi,… rio assim!
V
Virar as bandeiras.
Balbuciar a pátria
Destroçada
Pelos reis amargos!
Cruzar os braços
Lubrificar as armas
Com água salgada dos olhos!
Enferrujar
Os dedos dos HOMENS
Morrer
E não chorar depois!
Apagar
O povo de um apago
Ou quantos apagos necessários forem!
Um dia,
Mundo policiado
Civis já não há,
A victória derrotada do povo!
Prostitutas do apocalipse…
EU,
Continuarei sobre a cama
Bebendo o suco do teu ventre
Me lambuzando
De delicias eternas
Embriagando-me do teu cheiro
E reinando
Dos teus abraços e braços
De MULHER…
Amada minha.
Paz e guerra!
Te ofereço Tolstoï!
-Guerra e paz…
Um copo de vinho…
Fuzil-fucinho!!!
-Tolstoï!
© Ethel MUNIZ